Meu último emprego como Office Manager e Personal Assistant iniciou-se em 1972, quando fui entrevistada por um executivo canadense que veio ao Brasil para iniciar uma renomada agência de publicidade, a Y & R!
Ele estava instalado com esposa, dois filhos pequenos e babá mexicana num apartamento temporário com dois dormitórios e eu precisava ajudá-los com tudo. Enquanto eu usava minha máquina portátil Remington na mesa da sala de jantar, ele sentava na cama de casal entrevistando os profissionais que eu conseguia para ele conhecer no Brasil. Já naquela época era Headhunter e não sabia!
Pra vocês terem uma ideia do pique do trabalho, fui incumbida de achar um escritório de pelo menos seiscentos metros quadrados na tão procurada Av.Faria Lima, já aquela época, uma tarefa quase impossível. Eu batia de porta em porta, de prédio novo em prédio novo, perguntando se tinha algum espaço disponível para alugar.
Um belo dia, eu achei o escritório certo no número 1815, no quarto andar.
Começou então outro périplo: orçamentos para móveis, instalações, equipamentos etc. Só que no meio do caminho tinha uma pedra – o imóvel só poderia ser alugado mediante um FIADOR!
Enquanto o John procurava, desesperadamente, formar a equipe certa para contentar o primeiro cliente, Johnson & Johnson, eu dava meus pitacos no nome do produto e buscava novos profissionais para completar a equipe criativa. Adivinhem quem sugeriu a tradução do STAY FREE para SEMPRE LIVRE?
Em pouco tempo, graças a um ótimo script de argumentação, conseguimos trazer para o Brasil o famoso Alan Zwiebel e toda a sua equipe. Na sequência os anúncios do SEMPRE LIVRE ficaram prontos para a veiculação na mídia. Só que, pasmem, nenhum veículo de comunicação queria aceitar os anúncios, pois não conheciam a Young & Rubicam!
Imagina o desespero! Não podíamos colocar os anúncios e não sabíamos como explicar para o cliente que perderíamos o prazo.
É claro que meu chefe, John Paré, telefonou para nossos advogados, pediu uma solução para o problema e cogitou se eles não poderiam ser os fiadores. Mas a resposta foi um sonoro não. A única opção seria pedir ao banco para ser fiador, e não só da mídia, mas das casas, apartamentos e escritórios, que já estavam com os contratos prontos para serem assinados. Quando o John teve a notícia de que o banco aceitaria desde que pagássemos 1% de todos os valores mensais, como fiança, quase teve um ataque cardíaco e ligou novamente para a advogado pedindo outra solução. Aí o advogado falou que precisavam achar alguém que fosse proprietário de um imóvel e que estivesse disposto a ser fiador para a Young. Meu chefe olhou para mim, como sempre, na esperança de que eu arranjasse uma solução… “quem poderia ser?”, ele me perguntou.
– Eu tenho uma casinha na Rua Santo Arcádio, 469, onde moro com meu filho e meus pais. Respondi inocentemente.
Ele então ligou novamente para o advogado que pediu para perguntar se o imóvel estava quitado. Respondi que sim, pois havia trabalhado muito duro para comprar essa casinha e ela estava todinha em meu nome.
O advogado sacramentou: “Se sua secretária quer ser a sua fiadora, não vejo problema nenhum.”
Não preciso contar mais nada, não é?
Dias depois, assinei um monte de papéis, contratos com mídia eletrônica e impressa, imobiliárias, mas é claro que eu sabia que a Young pagaria tudo bonitinho, sem problemas. O presidente da Young, de Nova York, enviou-me uma carta garantindo que não me deixariam na mão.
Quanto aos anúncios, foram publicados no domingo seguinte!
Agora, vocês devem estar se perguntando: será que a Astrid dessa vez foi recompensada?
Dois anos depois, quando eu decidi que não queria mais ser secretária e lançaria um novo conceito de empresa no Brasil, a Young criou o nome GREAT START, o logo, o layout de todo o material de papelaria, escreveram o press release, em inglês, para o Brazil Herald, divulgando a primeira empresa brasileira de escritórios temporários para novas empresas.
Munida de coragem e determinação, fiz tudo com dinheiro emprestado de bancos e com a ajuda de Victor Pike – Homem de Vendas/1969 e primeiro presidente da Chrysler no Brasil, que não me deixou desistir do sonho de montar escritórios temporários para estrangeiros e no correr da caravana, tornou-se meu marido.
Montei o primeiro e único serviço deste gênero no país, num triplex localizado na Praça da República, 177. Meu primeiro cliente foi Alexander Proudfoot, que veio estudar o mercado; o segundo foi Kimberley Clark e depois vieram muitos outros. Detalhe importante que merece destaque: sabem quem me apresentou aos bancos para conseguir um empréstimo e quem foi meu fiador? Yes! John Paré! Ele me disse:
– Astrid, your idea is fantastic. Brazil needs this and you will make a huge Success of this business. If anyone can do it, you can. GO AHEAD. Don´t give up.
E, mais uma vez, dessa em meu próprio benefício, coloquei minha casinha na Rua Santo Arcádio como garantia. Três anos depois, havia liquidado minha dívida com os bancos. Naqueles tempos, os bancos ainda acreditavam em ajudar uma pessoa com uma boa ideia, sem cobrar os juros exorbitantes de hoje – mas isso fica para outra crônica.
Essa história de hoje tem a ver só com o início da Y&R no Brasil e da minha pequena, mas famosa, Great Start, fundada em 1974.
Astrid Rizzi