Nos idos de 1976, recebi uma ligação aflita do gerente do Hotel Hilton, solicitando com muita urgência a minha visita para ajudá-lo a acomodar um grupo de 30 Super Executivos de várias empresas multinacionais, liderados pela empresa Mecânica Pesada.
Minha missão dessa vez seria conseguir uma sala de reunião, pois a que utilizavam no Hilton já estava reservada para outro grupo, e na sequência recrutar secretárias taquígrafas em inglês, espanhol, francês e italiano para pilotar suas máquinas maravilhosas, no mais completo sigilo.
– Para quando vocês precisam dessa estrutura? – perguntei já com receio da resposta que viria.
– Para ontem, dona Astrid. Para ontem!
Mãos à obra, imediatamente colocamos as Secretárias taquígrafas on call (inglês e espanhol já fazia parte do nosso quadro de funcionários) e montamos três mesas em U para acomodar os executivos, que marcharam dentro de nosso escritório, perfilados um atrás do outro, prontos para tomar as grandes decisões.
Quando estavam todos acomodados, o diretor responsável pelo grupo me disse que infelizmente eu não poderia mais permanecer na sala, pois se tratava de um negócio muito sigiloso. Eu acatei seu pedido, mas antes providenciei para que não faltasse café e água para o grupo. O que se ouviu daí pra frente foram acaloradas discussões em vozes altas e alteradas, em diferentes idiomas. Uma verdadeira Babel.
Um entra e sai de executivos, todos apressados, fazendo intermináveis ligações para suas matrizes no exterior, para trocar informações e colher novos dados.
Eu estava curiosa para entender do que se tratava, e quando vi uma das minhas secretárias sair para enviar um telex, não resisti e perguntei a ela se podia me adiantar algum detalhe. Afinal das contas, eram clientes da Great Start, minha empresa! Só que ela falou que havia assinado um termo de confidencialidade, portanto nada poderia me dizer.
E assim já haviam passado três dias, com expedientes que se estendiam, às vezes, até às dez da noite. Eu acompanhando tudo de longe, cuidando para providenciar as ferramentas de trabalho. O telex não parava, as cinco máquinas IBM esquentavam de tanto serem usadas e tive que alugar mais uma máquina de xerox.
No quarto dia, o executivo da Mecânica Pesada veio falar comigo com um grande sorriso nos lábios:
– D. Astrid, por favor, encomende a melhor champanhe francesa que a Sra. puder encontrar e coloque em nossa conta. Hoje precisamos comemorar!
Comprei a champanhe e coloquei na geladeira, enquanto as discussões continuavam, só que dessa feita, com tom mais ameno.
De repente, um grande silêncio, que se estendeu por uns quinze minutos, não me lembro ao certo. Só sei que após a quietude, ouvi muitos, mas muitos aplausos. E pensei: “O que será que está acontecendo?”
Quando a porta da sala de reunião se abriu, fui convidada a entrar, sendo acolhida com muitos sorrisos e aplausos. Todos fizeram questão de me abraçar e agradecer todo o apoio que haviam recebido. “A Sra. e a Great Start tornaram possível o nascimento de uma grande obra que vai se chamar de ITAIPU, uma hidroelétrica de tal dimensionamento, que o Brasil jamais imaginou ter, nem em sonho!”
E foi assim que tomei conhecimento de quem eram meus clientes.
No dia seguinte eles foram continuar suas reuniões nos escritórios da Siemens, mas o acordo inicial foi assinado na mesa de reuniões da Great Start!
E querem saber mais, essa mesa ainda está, até hoje, em nossos escritórios na Rua Santo Arcádio, 469 em São Paulo. Às vezes penso se não deveria pertencer ao museu do Itaipu, mas será que alguém lá sabe dessa história?
Astrid Rizzi